terça-feira, 7 de junho de 2011

Casa do Português

Repórter: Any Lima

Um casarão construído no ano de 1950, localizado na Av. João Pessoa, avenida esta que com o passar do tempo ficou conhecida como “avenida da morte” devido ao grande número de acidentes registrados na via de mão dupla, é sem dúvida um dos mais belos casarões da cidade. Não somente pela sua infra-estrutura gigantesca, é claro que ela também conta bastante, mas também pelo sentimento que nos remete a riqueza, a classe dos nobres, dos privilegiados. É quase impossível olhá-lo sem ter uma imagem de que a família que primeiramente ali um dia habitou, era uma família com grande poder econômico, ou seja, era uma família da alta sociedade.

Foto: Any Lima
A casa – intitulada na placa ao lado da entrada principal de Vila Santo Antônio - pertencia a José Maria Cardoso, um rico comerciante português, dono de madeireira fornecedora de lenha para a Light e para os trens da RVC (Rede de Viação Cearense). O nome vila de Santo Antônio surgiu devido à grande devoção que José Maria Cardoso tinha pelo Padroeiro dos pobres.
Por mais que a família de Cardoso crescesse, jamais todos os espaços do casarão foram ocupados e isso entristecia o proprietário. Cardoso ficou mais desesperado ainda com o suicídio de seu filho, que saltou do alto da casa que o velho português construíra. Para o velho, o sonho acabou.
Ainda na convivência do português e sua família, o terceiro e último andar acabou sendo alugado para outro empresário luso, Paulo de Tarso, que instalou ali uma Boate Portuguesa. Mas segundo Augusta Leide(dona de uma banca de revista em frente a casa) e José Ivan Fernandes(morador que reside há nove anos no casarão, responsável pela administração do mesmo) a boate era somente de fachada, pois Paulo de Tarso nada mais e nada menos, instalou um verdadeiro bordel. Jose Ivan, para provar a veracidade de sua informação, nos mostra os vários quartos do terceiro andar, todos eles numerados. Ele explica que a numeração dos quartos servia para a organização do ambiente.
Logo depois o fechamento da boate em 1965, a casa abrigou a sede da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) até 1984, e logo depois: uma oficina, um estacionamento e um cortiço.
O edifício foi tombado como patrimônio histórico municipal pela Fundação de Cultura, Esporte e Turismo (Funcet) e está protegido de reforma que o desfigure. Ele é referencial identitário da nossa sensibilidade urbana, possui uma arquitetura especial e única e já foi cartão postal de Fortaleza em décadas passadas. Em 2005, os arquitetos Napoleão Ferreira e Mário Roque tiveram a idéia de transformar a casa em Centro Cultural. A proposta era a de um centro que integrasse a cidade e o estado com a cultura portuguesa. 

Foto: Any Lima

Mas, voltando ao detalhe que casarão também se transformou em um cortiço, isso é realmente algo notável. Ao visitar a sua parte interna, eu não pude deixar de lembrar-me do romance O Cortiço de autoria do escritor brasileiro Aluísio Azevedo. Não pelas histórias das pessoas que ali vivem, pois esses detalhes são bem diferentes da descrição do estilo de vida dos personagens do romance. A semelhança que pude perceber, foi os traços do ambiente. Os detalhes das “casas” que ali foram formadas. As roupas estendidas no varal, as crianças brincando, o entra e sai das famílias que ali residem(que somam um total de 11 famílias).
Mas, diferente do romance, o clima na casa é bem hospitaleiro. As pessoas que ali residem são pessoas que possuem empregos fixos. Segundo Ângela Maria, moradora há dois anos, todas as pessoas que ali vivem embora não possuam nenhum grau de parentesco, são consideradas familiares dela, pois existe um bom relacionamento entre todos.
As divisões das casas dentro do casarão foram feitas por pedaços de madeiras e alguns papelões. Segundo José Ivan, a pedido dos atuais donos do imóvel, não foram usados tijolos para fazer a divisão entre uma casa e outra, pois apesar das ruínas, a sua estrutura deve ser preservada. Somente o primeiro e o segundo andar são habitados por famílias, o terceiro andar está praticamente isolado, e é importante ressaltar que o mesmo possui um mal cheiro horrível. Ele nos relata também que não moram ali totalmente de graça, todas as famílias são responsáveis pelo pagamento de água e de luz da casa. E que os atuais donos sempre estão visitando o local e que eles sempre pedem para ele que não permita que outras famílias habitem a casa. Para eles as famílias que ali residem já é o suficiente.
Josivânia, filha do seu José Ivan, que reside no casarão desde que nasceu, nos fala que ano passado, a varanda do segundo andar era usada para as realizações das reuniões da igreja Assembléia de Deus e assim funcionou durante um ano.

Foto: Any Lima

Apesar da imagem de abandono e pobreza do local, os moradores fazem que o mesmo seja realmente um lar feliz. Ao entrar pensei que encontraria um lugar de clima tenso, mas me deparei com a satisfação de pessoas que conseguem ver o lado bom da vida. Pessoas que tentam fazer o que o idealizador da casa não conseguiu, que seria ocupar todos os espaços. São pessoas bem gratas  ao lar que possuem hoje.
Não é a toa que Santo Antônio é conhecido como padroeiro dos pobres. O português, José Maria Cardoso, escolheu bem o nome do seu casarão!



3 comentários:

  1. GOSTARIA DE FAZER UM TRABALHO DA FACULDADE NESTE LOCAL. ONDE EU PODERIA TER PERMISSÃO PARA ENTRAR E FOTOGRAFAR O LOCAL? FICO FELIZ SE ME AJUDAR^^
    OBRIGADA^^

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  2. GOSTARIA DE FAZER UM TRABALHO DA FACULDADE NESTE LOCAL. ONDE EU PODERIA TER PERMISSÃO PARA ENTRAR E FOTOGRAFAR O LOCAL? FICO FELIZ SE ME AJUDAR^^
    OBRIGADA^^

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  3. Gostaria de saber se existe um livro que conta a historia dessa familia.

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